domingo, 16 de março de 2008

Sobre Tempo e Jabuticabas

Na sexta-feira fez 4 meses que a minha mãe morreu... E, portanto, fazia 4 meses tb que eu não postava nada aqui... Às vezes, parece que já faz tanto tempo, mas, às vezes, eu sinto como se fosse ontem...

Então, entendo que, mesmo não dizendo, alguns amigos pensem "puxa, a Sú ainda está nessa?", porque eu mesma penso que as coisas já deviam ter voltado ao normal, eu já devia estar bem e já devia ter retomado as atividades normais... Mas só quem consegue entender o que sinto ainda é quem já perdeu os pais numa idade em que a gente ainda não tem uma família própria, com marido e filhos nossos...

Decidi retomar o blog a pedido do amigo Oliva, mas entendam se eu ainda continuar melancólica por algum tempo... Juro que estou tentando sair dessa pq, afinal, até terapia eu estou fazendo, né...

Mas esse texto, que enviei pros amigos e estou postando aqui por sugestão do Oliva, tb me fez pensar na minha mãe (tudo que penso, ultimamente, de algum modo relaciono a ela...) pq essa 1ª parte que diz "Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora" me fez pensar que se eu morrer com a mesma idade da minha mãe, isso é verdade... Tenho menos tempo pra frente do que já tive até agora...

E acho que isso, talvez, me faça tomar algumas decisões que já adiei demais até agora... Quem sabe... Logo, acredito que terei posts mais animados sobre planos prum futuro não muito distante...

"SOBRE TEMPO E JABUTICABAS

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como um menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis para discutir assuntos inúteis sobre as vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena! Basta o essencial!"

Autor: Anônimo

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Sobre a morte e o morrer

Rubem Alves

O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida deum ser humano? O que e quem a define?

Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”

Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...”

Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.

Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.

Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.

Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".

Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.

Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.

Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3.

sábado, 27 de outubro de 2007

Metade

Ferreira Gullar

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...também.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O Morrisey me compreenderia...

There Is A Light That Never Goes Out
The Smiths

Take me out tonight

Where there's music and there's people
Who are young and alive
Driving in your carI never never want to go home
Because I haven't got one
Anymore

Take me out tonight
Because I want to see people
And I want to see lights
Driving in your car
Oh please don't drop me home
Because it's not my home
It's their home
And I'm welcome no more

And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure and the privilege is mine

Take me out tonight
Oh take me anywhere
I don't care, I don't care, I don't care
And in the darkened underpass
I thought "Oh God, my chance has come at last"
But then a strange fear gripped me
And I just couldn't ask

Take me out tonight
Take me anywhere
I don't care, I don't care, I don't care
Just driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one
Oh, I haven't got one

There is a light that never goes out
There is a light that never goes out
There is a light that never goes out
There is a light that never goes out...

domingo, 14 de outubro de 2007

"Se precisar de alguma coisa, me avisa"

Acho que tem gente que usa essa frase somente da forma coloquial, como um simples "Tudo bem?" que a gente nem sempre usa pra saber a verdade, mas mais como uma forma de cumprimento ou como um "Bom dia", que a gente nem sempre pensa no verdadeiro significado quando fala isso pra alguém...
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Sei que posso usar esse blog pra desabafar algumas coisas que têm me deixado chateada pq nenhum amigo meu de convívio costuma mesmo ler esse blog... Então, não vai soar como indireta pra ninguém... É mais uma coisa do tipo que a gente tem que colocar "no papel" pra tirar de dentro da gente, mas, nesse caso, que a gente tb fica torcendo pra, por acaso, algum amigo ler e mudar algumas atitudes...
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Nesses dias que não andam muito fáceis, como eu estava dizendo pra Linda, começo a entender pq alguns serviços telefônicos de ajuda como o CVV recebem tantas ligações... Antigamente, costumava pensar que as pessoas que ligam pra esses serviços não deviam ter nenhum amigo, mas hj sei que o buraco é mais embaixo...
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Nem sempre os pedidos de socorro que a gente solta são compreensíveis para todo mundo. Nem sempre as pessoas pedem socorro tão claramente como todo mundo gostaria, tipo "Por favor, estou muito mal, precisando conversar. Vc pode vir até aqui?" Só não sei se as pessoas não entendem esses pedidos de socorro ou se fazem que não entendem pq, afinal, é mais fácil não se envolver nos problemas dos outros...
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Acho que ninguém nunca me ouvirá ao telefone chorando copiosamente e pedindo ajuda assim diretamente... Meus pedidos de socorro costumam vir disfarçados de um convite pra balada, de preferência dessas que tenham música e cerveja pra alienar o pensamento e aliviar os sentidos...
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A coisa não tá fácil... Espero que o tempo ajude a clarear as minhas idéias... Tô cansada de parecer forte, tô cansada das pessoas acharem que eu sou auto-suficiente, tô cansada de, no fundo, ser sozinha...

sábado, 6 de outubro de 2007

Terra Celta no SESC Vila Mariana amanhã!!!

Bom, hoje é sábado e eu tô super ansiosa pela apresentação do Terra Celta no SESC Vila Mariana no domingo... Conheço esse grupo faz um tempo, mas só das Celtic Jams do Ricardo; nunca vi o grupo mesmo em uma apresentação formal...

Então, tô postando aqui um vídeo com um trechinho de uma música muito engraçada que eles tocam... E, como o vídeo não tá lá essas coisas (e o áudio tb não), segue tb a letra...

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IN HEAVEN THERE IS NO BEER

In Heaven there is no beer
That's why we drink it here
And when we're all gone from here
Our friends will be drinking all the beer.

In Heaven there is no wine
So we drink till we feel fine
And when we leave this all behind
Our friends will be drinking all the wine.

In Heaven there is no sex
So let's do that next
And when our muscles no longer flex
Someone else will be having sex.
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(Bom, tentei postar, mas como esse vídeo não é do YouTube, acho que a coisa não vai funcionar e vcs só verão um quadradinho aí embaixo... Então, pra quem quiser ver, segue o link aqui mesmo, por escrito: http://myspacetv.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoid=16092998)


sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Triste 11 de setembro


Um comentário antes de postar uma crônica que li hoje e gostei muito:

- Primeiro, vai servir de homenagem ao Oliva, que é o único que ainda me escreve cobrando alguma atualização deste pobre blog tão abandonado... rs... Pq acho que se vc ainda não viu essa crônica, Oliva, vai curtir e, além disso, inevitavelmente, ela me lembrou vc e um professor de História muito bom que eu tive no SENAI que tb usava o termo "estadunidense";

- Segundo pq o escritor conseguiu expressar o que eu sinto com relação ao 11 de setembro, mas que se eu falar com as minhas palavras e com a minha delicadeza de elefante em loja de cristais, todo mundo vai dizer que eu sou insensível e anti-americanos.

Agora sim, vamos à crônica...

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Triste 11 de setembro

O dia em que o estádio onde o Brasil foi bicampeão do mundo virou campo de concentração

Por Mouzar Benedito

Desde 2002, o 11 de setembro virou data das vítimas do terrorismo, dos inocentes estadunidenses que morreram sem saber por quê, um ano antes. Compartilho a tristeza dos familiares e dos amigos das vítimas. Mas lembro com tristeza do 11 de setembro desde muito antes.

Só que os fatos que me levam a isso – ao contrário do acontecido em 2001 – tinham como vítimas não moradores dos Estados Unidos, e sim do Chile. E os terroristas, dessa vez, planejaram tudo em gabinetes governamentais de Washington.

Sim, o 11 de setembro de 1973 em Santiago do Chile – o golpe militar liderado pelo general Augusto Pinochet contra o governo democraticamente eleito do socialista Salvador Allende – teve como co-responsável o país que hoje se põe na condição de vítima do “terrorismo” e gasta bilhões de dólares com uma operação militar em defesa da “democracia”.

Antes de dar o tiro de misericórdia em Allende, os Estados Unidos, por intermédio da CIA, comandaram uma política de desestabilização de seu governo e da economia chilena. Chegaram a pagar caminhoneiros para não transportarem mercadorias, e muito mais do que eles ganhariam trabalhando. Por isso faltava até comida nas cidades. Depois partiram para o golpe final, comandado por Pinochet. Milhares morreram. Milhares desapareceram.

Numa área próxima a um bairro universitário, o Rio Mapocho, que corta a capital chilena, correu vermelho nesse dia. Muito sangue. O Estádio Nacional – no qual o Brasil conquistou sua segunda Copa do Mundo ao vencer a Checoslováquia por 3 a 1, há 45 anos – foi transformado em campo de concentração, prisão, centro de torturas.

O compositor Victor Jara, um dos mais populares do país, morreu ali. Seu corpo foi encontrado dias depois por sua mulher, crispado de balas e com as mãos decepadas para não mais tocar suas canções de amor e liberdade. Te recuerdo, Amanda...

Então, o papel de vítima dos Estados Unidos não me comove. E me comove menos ainda quando recordo outros atos que cometeram. Lembro-me, por exemplo, da história de um japonês que se tornou meu amigo.

Yoneda morou em Hiroxima, no Japão, até os 18 ou 19 anos, ainda durante a Segunda Guerra Mundial. Terminou o curso médio e foi a Tóquio, para tentar entrar numa faculdade. Saiu de Hiroxima em 5 de agosto de 1945. No dia seguinte, em Tóquio, soube que algo grave tinha ocorrido em sua cidade. Procurou descobrir o que estava acontecendo, tentou telefonar, não conseguia.

Resolveu voltar. A região estava toda cercada pelo exército, ninguém podia entrar. Ficou desesperado. Uma bomba atômica lançada pelos Estados Unidos destruíra toda a sua cidade. Não tinha mais amigos, não tinha mais família. Nada!

Em 1980 ele me mandou um depoimento, contando como foi, sua angústia, seu desespero. Publiquei no dia 6 de agosto daquele ano, na Gazeta de Pinheiros, o “Diário de Yoneda”. A última página inteira, falando da sua história, naquele aniversário da destruição de Hiroxima pelos estadunidenses.

Em 2001 eu o conheci pessoalmente. Yoneda veio ao Brasil, com setenta e tantos anos de idade, muito disposto e elétrico. Andava o dia inteiro. Numa noite, ficamos conversando com ele, o Kyoshi (seu filho) e a Mary Lou (sua nora), na casa da Lea e do Mário, nossos amigos comuns. Entre umas e outras, nos divertimos muito.

Claro, não falamos do 11 de setembro nem do 6 de agosto.